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É do couro do boi que é feita sua própria prisão. É de pele escrava a origem do Caxambu tocado pelo Geraldo Navalha e pelo Ademar. E dessa prisão, que é a mesma que sustenta o corpo, vem todas as influências da roda. O caxambuzeiro faz seus versos daquilo que vive, que vê, que sente, do que se identifica. O ponto vem da fazenda, do cultivo da cana de açúcar, do gado, do carro de boi. O ponto nasce debaixo da árvore, num jogo em que o tocador de boi transforma seu cotidiano numa poesia primitiva, de linguagem própria cheia de entrelinhas, desafios e demandas. É do barril de cachaça que produzem na fazenda, revestido com o couro, o atabaque ou caxambu que puxa os primeiros batuques na noite em que a roda é montada.
Então são vários caxambuzeiros batendo a mão rápida e atentos ao verso que foi jogado. Ao fim do ponto, quem souber responde e puxa outro pra roda. Nessa demanda a roda vira mágica e a fazenda responde pelo caxambuzeiro. Puxado pelo lado entra o boi, entra o olho do caxambuzeiro, entra o carro que tombou e agora o dono quer conta da chaveia. E a chaveia está ali mesmo, dentro do próximo batuque e no próximo verso puxado, que prende o carro e não deixa a festa desandar. E, no fim, não importa quem fez os melhores versos ou quem se enroscou no meio do caminho, mas o que foi aprendido na roda. Não, não há vencedores, mas aprendizes.
A semente do Caxambu está nesse caldeirão de informações e magia que é o cotidiano do caxambuzeiro. O Caxambu está ali, no olho esperto de pessoas como Geraldo e Ademar, que observam e criam a festa na roda e também no olho do boi, que puxa o carro, que recebe o chicote, que carrega a comida, que fornece a vida para nosso sustento, que é preso pelo próprio couro.

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